“ACUPUNTURA POR TELEMEDICINA?”

O QUE O EXERCÍCIO DA TELESSAÚDE ME ENSINOU SOBRE MINHA PROFISSÃO

Todos nós temos histórias para contar daquele março de 2020.

Planos, viagens programadas, estudos engatilhados para o resto do ano…e agenda cheia de pacientes que se beneficiavam das minhas “agulhinhas terapêuticas” em meu consultório. Tudo isso teve de ser adiado, por tempo indeterminado, naquele março.

Sem pestanejar, quando tudo começou, pensei “é hora de fechar a clínica! Não posso pensar em expor meus pacientes ao risco de contaminação!” Muito medo no ar: o vírus estava por toda a parte e não sabíamos bem de onde ele poderia vir.

Eu estava certa de que estava tomando a melhor decisão para meus pacientes, muitos deles com as já conhecidas condições de alto risco para a infecção pelo COVID.

Alguns pacientes idosos sentiram muito a abstinência às sessões de Acupuntura. Elas lhe davam alívio não medicamentoso às suas dores, davam-lhes mobilidade e, acima de tudo, forneciam um propósito, um senso de autocuidado, tão importante nesse período da vida.

O choque com as notícias da propagação do vírus era tão impactante que durante algumas semanas, mesmo os pacientes que faziam seguimento comigo de tratamento homeopático, permaneceram em silêncio. Uma sensação de suspensão no ar que todos nós reconhecíamos naquele início da pandemia.

Com o tempo, os pacientes de Homeopatia começaram a me procurar. “Doutora, tem algum remédio homeopático que posso tomar para essa ansiedade?” E, um após o outro, foram buscando ajuda na Medicina Integrativa para um mal velho conhecido, a angústia, que agora surgia por um elemento novíssimo: o ‘Novo Coronavírus’, como era chamado.

E assim foi que eu me debrucei para ajudar meus pacientes nessa aflição de não saber. Não, eu mesma não sabia, com quase 20 anos de formada, como seria o comportamento dessa entidade. E, nem mesmo os colegas mais experientes em infectologia nos davam perspectiva de como tratar essa infecção que se disseminava como poeira no ar.

Estava iniciando, naquele março, meus estudos em Fitoterapia Chinesa e, foi daí que me veio um ‘plim!’. Mesmo sabendo infimamente sobre as Fórmulas Magistrais milenares, eu podia observar como cada erva tinha sua função em um corpo, ou mente, em sofrimento. Eu deveria pensar da mesma forma. Que recursos eu poderia levar para as pessoas que começavam a ‘adoecer por ver o mundo adoecer’?

Bem, sendo Homeopata há muitos anos, comecei a observar o comportamento geral das pessoas que me procuravam: a tônica era uma angústia pela falta de perspectiva daquele momento acabar. Mas havia também um medo, imenso, do desconhecido. E, isso não era força de expressão, estavam todos apavorados e, com toda razão. Sendo assim, me pus a repertorizar os sintomas mentais mais frequentes, como fazemos nas consultas homeopáticas.

Eu pensava todos os dias “ah se eu pudesse usar as agulhas agora, se pudesse levar as pessoas até a clínica… eu saberia os pontos e as combinações mais prováveis para acalmar meus pacientes”. Mas não era possível, a curva de incidência só subia e, o que eram apenas 15 dias… bem, todos sabemos o que aconteceu, certo?

Foi então que eu comecei a orientar aos pacientes nas consultas por Telemedicina a pressionarem seus pontos de Acupuntura de um modo sistemático: 2 vezes ao dia, por 15 minutos. E que pontos? Ora, os pontos mais importantes para “acalmar o Shen”, para “devolver clareza à mente” e outras expressões poéticas que só a Medicina Chinesa traz para nós.

Bolei um manual, com ilustrações bonitas dos pontos e fui em frente. Depois surgiu o “Manual para Dores nas Costas” pois, com o trabalho remoto e sem ergonomia nenhuma, o índice de dores miofasciais por má postura aumentou. E, fui aplicando tudo o que sabia sobre acupressão, uso de antinflamatórios tópicos naturais, desde óleos essenciais a pomadas, gel, compressas, além dos medicamentos homeopáticos.

A ideia deu tão certo que as plataformas de saúde para as quais trabalhava na época passaram a me remunerar por “Consultas de Acupuntura por Telemedicina” e, o que parecia improvável, tornou-se muito real e, acredite, ajudou muita gente naquele momento de incerteza tremenda.

Hoje, minhas teleconsultas de Acupuntura continuam mais frequentes do que nunca. Mas o mais bacana foi poder por em prática a Medicina Integrativa que tanto gostei de praticar, podendo ajudar aos meus pacientes, mesmo não sendo uma especialista em Pneumologia ou Infectologia.

Agregar os saberes que possuía naquele momento me fez entender qual o significado de integração em minha área e me fez ter um orgulho danado de ser médica e poder ajudar tantos, mesmo que à distância.